"Congresso Internacional do Medo"
- Ana Branco

- 31 de out.
- 2 min de leitura
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
in "Sentimento do Mundo" (1940)
Carlos Drummond de Andrade, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX, marcou a poesia da segunda geração modernista no Brasil. Com estilo irónico, escreveu sobre situações rotineiras, textos reflexivos que ressaltam a existência humana. O poeta vivenciou as duas guerras mundiais no século XX, presenciou os sofrimentos que fizeram parte das suas recordações, portanto é marcante a escolha de cantar o medo, ao invés de amor ou ódio.
“Congresso Internacional do Medo” remete o leitor à tristeza, à dor e às angústias vividas durante o período da guerra e pós-guerra. Composto por 28 poemas, “Sentimento do Mundo" foi escrito entre 1935 e 1940, período em que as nações recuperavam da I Guerra Mundial, sofrendo com a ascensão do regime militar e, imediatamente, se deparando com o início da II Guerra Mundial, período em que o Brasil vivia a censura e o militarismo. Os poemas de Carlos Drummond de Andrade retratam problemas como as injustiças sociais, não possuem rimas e descrevem o amor, a morte e o tempo num período tenebroso. O autor nutria esperança de mudanças, ansiava pela paz e a solidariedade entre as pessoas.


















