O vaso de Rubin
- Ana Branco

- 5 de set.
- 4 min de leitura
A 6 de Setembro de 1886, nasceu Edgar John Rubin. Professor de Psicologia Experimental e Director do Laboratório de Psicologia da Universidade de Copenhaga, Rubin é mais conhecido pela sua investigação inovadora sobre os papéis da organização da figura e do fundo na percepção visual; ilustrada com destaque na figura "vaso/duas faces", que apresentou originalmente na sua tese de doutoramento em 1915.
Os escritos de Rubin nesta área foram adoptados por Max Wertheimer e os seus seguidores como evidência da necessidade de uma compreensão gestáltica do processo visual. "Gestáltica" refere-se a tudo que está relacionado com a "Gestalt", uma teoria psicológica alemã que significa "forma", "figura" ou "configuração" e que estuda a percepção humana. A abordagem gestáltica defende que a percepção de um todo não se resume à soma das partes, mas que o indivíduo organiza e interpreta os estímulos de forma a criar uma totalidade com significado próprio.
Se vir um vaso: observe as bordas do vaso em ambos os lados e pense no recorte mais interior como a ponta do contorno do nariz, no recorte acima como o contorno dos olhos e no recorte duplo abaixo como o contorno da boca. Se vir duas faces: pense nas bordas de cada face a formarem o contorno de um vaso simétrico. Deve experimentar uma "alternância de Gestalt" entre ver a imagem como um vaso e dois rostos opostos.
A figura ambígua do "Vaso de Rubin" pertence a uma grande classe de ilusões ambíguas em que um estímulo pode ser visto, ouvido ou percebido de duas ou mais formas nitidamente distintas. Há muitos exemplos de figuras ambíguas. Existe alguma controvérsia sobre o funcionamento da figura ambígua do "Vaso de Rubin". É geralmente aceite que a imagem retiniana é constante durante a experiência da ilusão, mas o que não se concorda é se a experiência visual da figura muda quando ocorre a troca de perspectiva entre ver o vaso e as duas faces opostas de perfil, ou se a experiência em si não muda, sendo alguma crença, julgamento ou outro processo mental pós-experiencial que muda. O "Vaso de Rubin", entre outras figuras ambíguas, tem sido citado nos debates sobre esta questão.
Esta questão está interligada com questões mais gerais sobre a modularidade da mente e a penetração cognitiva. Na hipótese de a mente ser modular, um módulo mental é uma espécie de departamento semi-independente da mente que lida com tipos específicos de entradas e fornece tipos específicos de saídas, e cujo funcionamento interno não é acessível à percepção consciente da pessoa – tudo a que se pode ter acesso são as saídas relevantes. Assim, no caso das ilusões visuais, por exemplo, uma forma padrão de explicar porque é que a ilusão persiste mesmo sabendo que se está a experienciar uma ilusão é que o módulo, ou módulos, que constituem o sistema visual são "cognitivamente impenetráveis" em algum grau – ou seja, os seus funcionamentos internos e saídas não podem ser influenciados pela percepção consciente. É ainda uma questão em aberto até que ponto os módulos perceptivos são cognitivamente impenetráveis, e o "Vaso de Rubin" pertence a uma grande classe de ilusões que são empregues em debates para tentar responder a esta questão. Uma forma pela qual figuras ambíguas como o "Vaso de Rubin" podem sustentar a afirmação de que o processamento visual é impenetrável a um grau significativo é que a mudança da “Gestalt” é difícil de controlar – frequentemente, vemos o "Vaso de Rubin" de uma forma ou de outra, mesmo que se tente vê-lo de outra forma. Além disso, existem algumas evidências da neurociência de que, pelo menos para algumas figuras ambíguas, existem mudanças significativas no processamento visual inicial no cérebro quando a mudança da “Gestalt” está a ocorrer, o que pode sustentar a hipótese de que as mudanças da ”Gestalt”, em geral, são mudanças na experiência em si, e não em processos mentais posteriores, como crenças sobre essa experiência.
Finalmente, figuras ambíguas têm sido citadas em debates sobre se a natureza da experiência pode ser totalmente explicada apelando apenas ao seu conteúdo representacional. Alguns filósofos e cientistas cognitivos distinguem entre o carácter fenomenal de uma experiência – ou seja, como é para um sujeito consciente passar por essa experiência – e o seu conteúdo representacional – ou seja, sobre o que a experiência trata. Alguns filósofos, conhecidos como "representacionalistas", defendem que o carácter fenomenal da experiência pode ser totalmente explicado em termos do conteúdo representacional da experiência. Uma motivação para este argumento é que o conteúdo representacional parece mais fácil de "naturalizar" – ou seja, que a sua natureza seja explicada em termos puramente materialistas apelando apenas a entidades físicas como os estados cerebrais. O carácter fenomenal, por outro lado, parece muito mais resistente às tentativas de o naturalizar. Mas se o carácter fenomenal pode ser totalmente explicado em termos representacionalistas, então isso tornaria a naturalização do carácter fenomenal muito mais tratável. E as figuras ambíguas estão entre os principais exemplos discutidos nos debates sobre se o carácter fenomenal pode ser totalmente explicado em termos representacionalistas.
Referência: Donaldson, J. (July 2017), "Rubin's Vase" in F. Macpherson (ed.), The Illusions Index.


















