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Quem quer comprar mentiras?

  • Foto do escritor: Ana Branco
    Ana Branco
  • 31 de mar. de 2024
  • 2 min de leitura
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«Um ou dois artigos que aparecem no fundo das páginas dos jornais são muitas vezes destinados a “encher” esse espaço. No decorrer dos anos, eles tornaram-se um modelo de arte do jornalismo versado numa forma de escrever sucinta e até, não raro, plena de humorismo. Muitas vezes, para preencher esses requisitos, a verdade fica em segundo lugar.


O mais famoso, mais imaginativo e certamente o mais audacioso desses redactores especializados em escrever histórias para encher pequenos espaços era Louis T. Stone, de Winsted, no Connecticut. A sua carreira, desde 1895 até à altura da sua morte, em 1933, resumiu-se a escrever mentiras, pelas quais, aliás, lhe pagavam, principescamente.


Tudo começou quando ele trabalhava como repórter e precisava de 150 dólares. Do que ele realmente necessitava era de uma história que pudesse vender aos grandes jornais da cidade. E, visto não haver nenhuma história, decidiu inventar uma.


Arranjou uma narrativa sobre um homem em estado selvagem que percorria as florestas do Connecticut sem nunca ser apanhado. A história despertou a atenção de editores de Nova Iorque, mas foi rapidamente descoberto que se tratava de uma mentira. Stone aprendera entretanto uma lição que lhe iria servir durante os 38 anos seguintes.


Percebeu que aquele género de patranhas tinha saída e passou a abastecer o mercado de primores como este: “Vi com os meus próprios olhos um homem desta cidade – chamado Samuel – que passava tão maus bocados com as moscas a zumbirem em redor da sua cabeça calva que pintou uma aranha na cabeça e as moscas nunca mais o incomodaram.”

E esta outra: ”Perto do sítio onde eu moro há um lavrador que tinha uma galinha maravilhosa que no dia 4 de Julho punha um ovo vermelho, azul e branco.”


E mais esta: ”Temos uma vaca tão envergonhada que só se deixa mungir por mulheres. E existe outra vaca em Winsted que produz leite quente, a escaldar, por ter pastado em terrenos com cocleária.”


E ainda esta: ”Vi e ouvi um gato com o lábio superior fendido que sabia assobiar o Yankee Doodle.”


E esta também: ”Um dos criadores de galinhas que vive nas redondezas depena sempre os seus frangos humanamente: com um aspirador.”


Todas estas histórias foram escritas e publicadas por Stone como verdadeiras – mas os editores disputavam-nas. Muitos sabiam que eram mentiras, mas os leitores apreciavam-nas e, por isso, aqueles continuavam a publicá-las. As pessoas de Winsted davam grande apreço aos seus esforços. Quando os visitantes entravam na cidade viam cartazes onde se lia:

“Winsted, Connecticut, fundada em 1779, foi posta no mapa pelas engenhosas e estranhas histórias que emanaram desta terra e estão impressas em todos os jornais do país, graças a L.T. Stone”.


Stone ficou também com uma ponte com o seu nome. Passa por cima de um riacho que se chama “riacho do Crédulo.”»


in “Grandes Vigarices” de Nigel Blundell

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