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A receita que a felicidade não tem

  • Foto do escritor: Ana Branco
    Ana Branco
  • 20 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 7 horas

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Hoje celebra-se o Dia Internacional da Felicidade. A data, criada através da Resolução 66/281 da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 28 de Junho de 2012, tem o propósito de destacar a importância da felicidade e do bem-estar para o ser humano. Pretende-se sensibilizar os líderes políticos para a criação de políticas públicas que actuem nesse sentido, em áreas como o desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.


A felicidade sempre foi o objectivo supremo do ser humano. O discurso sobre a felicidade é recorrente na filosofia, na literatura em geral, na poesia em particular e, a partir de 1960, passou a ser também científico. Mas como a podemos alcançar? Maximizando os prazeres individuais e minimizando a dor? E se a felicidade de um ser humano for a causa da infelicidade de outro? A questão ética foi sempre um obstáculo para se considerar a felicidade como um problema exclusivamente individual.


O sentimento de ser "feliz" é diferente de pessoa para pessoa. Se concordarmos em dar o mesmo nome ao que pensamos ou sentimos, e, no entanto, pensamos ou sentimos coisas diferentes, então o significado comum da palavra é apenas nominal. Pessoalmente, considero não haver felicidade absoluta. Há momentos felizes, de bem-estar, de euforia e de riso. Assim como há momentos tristes, de mal-estar, de dor e de desespero. É a vivência e experiência de emoções contraditórias que mantém o equilíbrio. É a comparação entre opostos que define o conceito.


Mas para sensibilizar os líderes políticos a criarem políticas públicas de bem-estar, é necessário haver fundamentos científicos. A notícia feliz de hoje é a Finlândia ser o país mais feliz do mundo pelo sétimo ano e Portugal manter a posição. O PIB é geralmente relacionado positivamente a alguns indicadores básicos de saúde (mortalidade infantil e expectativa média de vida); progresso científico e tecnológico; sistema democrático de governo; segurança; educação e outros indicadores que sinalizam o bem-estar da população. Em países em desenvolvimento, o ganho material representado pelo aumento do PIB per capita e a diminuição do índice de desigualdade económica geralmente significam uma melhoria das condições de vida e do bem-estar das pessoas mais pobres: acesso à saúde e à educação, oportunidades de emprego, melhores condições sanitárias etc.


Não é por acaso que se defende o crescimento económico. É associado à riqueza económica que, supostamente, é a única forma de sermos felizes. Não é por acaso que não concordo com ele, nem o relaciono à felicidade. Um aumento do PIB pode não significar um aumento do bem-estar da população. O Paradoxo de Easterlin afirma que num determinado momento a felicidade varia directamente com o rendimento, tanto entre como dentro das nações, mas ao longo do tempo as taxas de crescimento a longo prazo da felicidade e do rendimento não estão significativamente relacionadas. A principal razão para a contradição é a comparação social. Num determinado momento, aqueles com rendimentos mais elevados são mais felizes porque comparam o seu rendimento com o de outros menos afortunados e, inversamente, com aqueles com rendimentos mais baixos. Com o tempo, porém, à medida que os rendimentos aumentam em toda a população, os rendimentos do grupo de comparação aumentam juntamente com os rendimentos próprios e viciam o efeito, de outra forma positivo, do crescimento dos rendimentos próprios sobre a felicidade.


Complicado de entender? Um aumento geral dos salários para todos nós conserva cada um de nós na mesma posição na "hierarquia dos salários", o que não aumenta a felicidade. Se buscamos a felicidade no aumento do salário, e se ele for aumentado habituamo-nos a viver com mais dinheiro e com o tempo a busca da felicidade é transferida para outro objectivo. Vivemos numa sociedade consumista obcecada em adquirir as "novidades" do mercado e a obsolescência planeada dos objectos de consumo absorve o aumento do salário. Ou seja, quanto mais temos, mais gastamos.


Os críticos do Paradoxo apresentam a relação positiva entre felicidade e renda em dados transversais ou em flutuações de curto prazo para contradizer a relação nula das tendências de longo prazo.

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