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Pensamento medido

  • Foto do escritor: Ana Branco
    Ana Branco
  • 8 de jan. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 1 de dez.

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Sem letras que o ajudassem na poesia, a quem o ouvia, dizia que dos homens gostaria, medir o pensamento.


"Eu gostava de medir

Dos homens o pensamento;

D’alguns me queria sorrir,

Por não darem comprimento"


João Rebocho Velez


Progressivamente, o ser humano tem substituído os poderes da criação pelo poder de analisar e examinar criticamente coisas já postas, com vista a transformá-las e reproduzi-las em massa. Esvaziam-se as forças criativas do espírito. Fica o pensamento reduzido à capacidade de explicação racional, inteligência ordenadora, engenho inventivo e instrumento de ensino e aprendizagem.


Na sua origem, o pensamento estava, primeiramente, presente na figura do mito e da arte. Actualmente, a força criativa do pensamento é subjugada pelo poder de objectivação e pretensões utilitárias da ciência, da técnica e da política.


Pensar é buscar sem endereço pré-estabelecido, senão o da própria busca. Uma busca que, na maioria das vezes, desconstrói o que já se produziu e se estabeleceu rigidamente. Nesta busca, não há “produto”, a não ser a formação da identidade humana. Neste “produto”, ou “produção”, não se admite cálculo de resultados e, como tal, nenhuma deficiência. A deficiência pertence ao olhar que olha para a busca do pensar e, não compreendendo as suas leis internas, caracteriza-o como improdutivo.


O ver, por meramente conhecer, o querer conhecer tudo, somente pelo prazer do ver superficial; o correr atrás do que é belo, harmonioso, suave, do que é agradável aos sentidos, somente para vê-los e, sem demora, abandoná-los, sem avistar e compreender o sentido oculto dos acontecimentos observados; o ver o horrendo, ou monstruoso, para experimentar o prazer de querer actualizar-se de novidades, inovações e acontecimentos presentes, é a busca indiscriminada por informação, pelo prazer de apenas tomar conhecimento a respeito de algo. Nesta busca, a existência humana dispersa-se.


Escrevia Heidegger:


«Se o buscar deve ser a meta, então, não se estabelece como meta mesma a ausência sem fim de meta? Assim pensa o entendimento calculador. Se o buscar deve ser a meta, deste modo não se perpetua a irrequietação e a insatisfação? Assim julga o sentimento ávido de rápida posse. Reconhecemos que o buscar, cada vez, produz na existência (Dasein) a mais alta estabilidade e equilíbrio – com certeza, apenas quando este buscar busca em modo próprio (eigentlich), isto é, quando se estende mais amplamente no mais escondido (Verborgenste) e deixa para trás de si a mera curiosidade.»

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