Só sei que nada sei
- Ana Branco

- 31 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: há 10 horas
Bertand Russell terá dito que o maior problema do mundo moderno é que as pessoas preparadas e capazes estão sempre cheias de dúvidas, enquanto as desinformadas e incapazes estão sempre cheias de certezas.
Umberto Eco, que não escondia a sua irritação com o uso cada vez mais descuidado de um dos grandes avanços da humanidade, a internet, dizia que antes das redes sociais, os “tolos da aldeia’’ tinham direito à palavra "num bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a colectividade". Para ele “o drama da internet é poder transformar qualquer tolo da aldeia em portador de uma suposta verdade planetária”.
Os psicólogos americanos Justin Kruger e David Dunning, da Universidade de Cornell, estudaram este “fenómeno”, conhecido pelo efeito Dunning-Kruger, segundo o qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto julgam saber mais que outros mais bem preparados. Os cientistas concluíram que muitas vezes a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento, dando a pessoas desqualificadas a sensação de uma “superioridade ilusória”. Assim, indivíduos com ideias preconcebidas, intuições e pressentimentos constroem versões distorcidas da realidade e agarram-se à ilusão de que são detentores de conhecimento confiável.
Os estudiosos dessa “superioridade ilusória” analisaram que, quanto mais ignorante alguém for sobre um assunto, menos qualificado será para avaliar a habilidade de qualquer pessoa que trabalhe no mesmo assunto, incluindo a sua própria habilidade. Quando alguém usa uma rede social para disseminar absurdos e ninguém o contrapõe, esse indivíduo assume-se um expert. Isso resulta numa percepção artificialmente inflada das suas próprias habilidades, muitas vezes temperada pelo ego. O mesmo efeito fará com que pessoas igualmente incompetentes se parabenizem e se apoiem, pois não conseguem detectar as suas insuficiências. Por isso, muitos ambientes de discussão efervescente são nada mais que arenas da ignorância, que afugentam as pessoas mais habilitadas a iluminar o debate.
Uma agravante é que as catástrofes, o drama e o negativismo exercem enorme atracção sobre a sociedade moderna. Essa condição cria um ambiente fértil para a “superioridade ilusória”, que faz circular de forma intensa falácias e meias verdades, ampliando o culto ao pessimismo e a glorificação dos que adoram bater os tambores do apocalipse.
Outra agravante é a informação produzida e disseminada a velocidade estonteante, desvalorizada e tornada obsoleta com igual celeridade. É cada vez mais difícil mantermo-nos actualizados. E, embora as informações estejam prontamente disponíveis em múltiplos meios, é cada vez mais difícil avaliar quando alguém está bem informado. O perigo é que as torrentes de informação, que nos chegam diariamente, nos tornem menos informados, desinformados ou, pior ainda, menos conhecedores do que sabemos.



















