A liberdade evolutiva de Dennett
- Ana Branco

- 19 de abr. de 2024
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Atualizado: há 10 horas
Daniel Dennett, o filósofo americano cujas obras exploraram a consciência, o livre-arbítrio (ou a capacidade de pensar sobre as razões para fazer algo, e ser influenciado por essas razões) a religião e a biologia evolutiva, faleceu ontem, dia 19 de Abril.
Dennett passou a sua carreira intelectual a tentar estender o projecto iluminista de colocar a filosofia e a moralidade numa base científica e naturalista. Num certo sentido, Dennett estava a actualizar David Hume à luz da teoria da evolução de Darwin. Ao fazê-lo, forneceu-nos novas formas de pensar sobre o significado da escolha, o valor da moralidade e como a evolução do cérebro humano e das suas capacidades nos tornou mais livres.
«… as pessoas têm esta estranha antipatia pela evolução e pelo materialismo. Elas pensam que se a evolução for verdadeira, então serão apenas animais ou autómatos – que não terão liberdade e não terão responsabilidade, e que a vida não terá sentido. O objectivo do livro é mostrar que, pelo contrário, só quando se entende a vida de um ponto de vista evolutivo é que se entende o que realmente é a nossa liberdade. Percebemos que é real. É diferente e melhor que a liberdade de outros animais, mas evoluiu. Não é sobrenatural.»
Dennett argumentava que a liberdade humana está a expandir-se dramaticamente. A língua e a cultura, especialmente quando apoiadas pela ciência e pela tecnologia modernas, permitem-nos aumentar o leque das nossas escolhas. À medida que aumenta a nossa compreensão sobre os nossos genes e cérebros, Dennett acreditava que aumentaremos a nossa liberdade em vez de a limitarmos. Seremos capazes de prevenir e curar mais doenças, melhorar as nossas instituições sociais e até melhorar as capacidades humanas. Dizia que defendemos a liberdade, especialmente a liberdade política, porque, entre outras coisas, ela permite ao longo do tempo que as pessoas façam cada vez melhores escolhas.
«As pessoas em todo o mundo são muito inteligentes. Algumas delas, sem culpa própria, são relativamente desinformadas. Se as informar, se remover a desinformação que elas possuem, farão boas escolhas. Pode confiar na democracia. (…) Dê as informações às pessoas e elas farão escolhas sábias.
Não que elas façam sempre boas escolhas. (…) Não que elas não tenham outros motivos. Mas, apesar de tudo isso, a capacidade de distinguir a verdade da falsidade é bastante forte. Agora, se acha que o meu relato da liberdade humana está correcto, então a maneira de protegê-la é garantir que a sua sociedade seja uma sociedade na qual os benefícios de ser um membro dela sejam tão tentadores e tão grandes que as pessoas assumirão a responsabilidade para que isso aconteça.»


















