Crítico cáustico
- Ana Branco

- 19 de nov.
- 2 min de leitura
Zygmunt Bauman ficou conhecido pelas suas análises das ligações entre a modernidade, o Holocausto e o consumismo pós-moderno. Conhecia o terror da guerra e o trauma do exílio. Essas experiências fizeram dele um defensor dos oprimidos e um crítico cáustico do status quo. Uma crescente polarização entre a elite e o resto, a nossa crescente tolerância com as desigualdades cada vez maiores e a separação entre poder e política permaneceram temas constantes nos seus escritos – produziu mais de 60 livros no total.
Cunhou o conceito de "Modernidade Líquida", através do qual analisou o desaparecimento das estruturas e instituições sólidas que outrora forneceram as bases estáveis para sociedades modernas bem ordenadas e as consequências para indivíduos e comunidades. Professor de sociologia na Universidade de Leeds, Reino Unido (1971-91, e então emérito), Bauman argumentou que o nosso mundo é incapaz de ficar parado e manter a sua forma por muito tempo. Tudo parece mudar – as modas que seguimos, os acontecimentos que nos chamam a atenção, as coisas com que sonhamos e as coisas que tememos. As pessoas já não possuem nem padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitem, ao mesmo tempo, construir a sua vida e inserir-se dentro das condições de classe e cidadão. Chega-se, no seu entender, à era da comparabilidade universal, onde já não possuímos lugares pré-estabelecidos no mundo, onde nos possamos situar, mas devemos lutar livremente por nossa própria conta e risco para nos inserirmos numa sociedade cada vez mais selectiva económica e socialmente.
«(…) A liberdade não pode ser ganha contra a sociedade. O resultado da rebelião contra as normas, mesmo que os rebelados não se tenham tornados bestas de uma vez por todas e, portanto, perdido a capacidade de julgar a sua própria condição, é uma agonia perpétua de indecisão ligada a um estado de incerteza sobre as intenções e movimentos dos outros ao redor – o que faz da vida um inferno.
Padrões e rotinas impostas por pressões sociais condensadas poupam essa agonia aos homens; graças à monotonia e à regularidade de modos de conduta recomendados, para os quais foram treinados e a que podem ser obrigados, os homens sabem como proceder na maior parte do tempo e raramente se encontram em situações sem sinalização: aquelas situações em que as decisões devem ser tomadas com a própria responsabilidade e sem o conhecimento tranquilizante das suas consequências, fazendo com que cada movimento seja impregnado de riscos difíceis de calcular.
A ausência, ou a mera falta de clareza, das normas – anomia – é o pior que pode acontecer às pessoas na sua luta para dar conta dos afazeres da vida. As normas capacitam tanto quanto incapacitam; a anomia anuncia pura e simples incapacitação. Uma vez que as tropas da regulamentação normativa abandonam o campo de batalha da vida, sobram apenas a dúvida e o medo.(…)»
in "Modernidade Líquida"


















