Da concepção de política de Hannah Arendt
- Ana Branco

- 26 de abr. de 2024
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«(…) "Por trás dos preconceitos contra a política estão hoje em dia, ou seja, desde a invenção da bomba atómica, o medo de a Humanidade poder varrer-se da face da Terra por meio da política e dos meios de violência colocados à sua disposição, e — estreitamente ligada a esse medo — a esperança de a Humanidade ter juízo e, em vez de eliminar-se a si mesma, eliminar a política" — através de um governo mundial que transforme o Estado numa máquina administrativa, liquide de maneira burocrática os conflitos políticos e substitua os exércitos por tropas da polícia.
Na verdade, essa esperança é totalmente utópica quando se entende a política em geral como uma relação entre dominadores e dominados. Sob tal ponto de vista, conseguiríamos, em lugar da abolição da política, uma forma de dominação despótica ampliada ao extremo, na qual o abismo entre dominadores e dominados assumiria dimensões tão gigantescas que não seria mais possível nenhuma rebelião, muito menos alguma forma de controlo dos dominadores pelos dominados. Esse carácter despótico não seria modificado pelo facto de não se poder mais descobrir uma pessoa, um déspota no contingente mundial — visto o domínio burocrático, o domínio através do anonimato do bureau, não ser menos despótico pelo facto de 'ninguém' exercê-lo; pelo contrário, é ainda mais terrível porque nenhuma pessoa pode falar com esse 'ninguém' nem lhe apresentar uma reclamação.
Mas, se se entender por 'político' o âmbito mundial no qual os homens se apresentam sobretudo como actuantes, conferindo aos assuntos mundanos uma durabilidade que em geral não lhes é característica, então essa esperança não se torna nem um pouco utópica. (…)»


















