Entre o bem e o mal
- Ana Branco

- 8 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de nov.
“Apologia do Diabo”, um brevíssimo ensaio descoberto e traduzido em Itália por Benedetto Croce em 1943, é não só uma pequena jóia esquecida da literatura filosófica mas, sobretudo, uma reflexão sobre a natureza e a questão do mal. Nela, o diabo – personificação da malvadez e «destruidor da liberdade alheia» – vê a sua conduta revelada em máximas que compõem um genuíno sistema da maldade.
Em linhas que versam a imoralidade política, inspiradas nas categorias da filosofia kantiana, J. B. Erhard faz-nos compreender os diabos de carne e osso e os tiranos que pululam no mundo, bem como a repercussão dos seus actos perversos nas vontades alheias. O diabo sob vestes humanas, o tirano, vive apenas no medo e do medo. Na liberdade alheia vê somente uma resistência ao seu domínio absoluto.
Não há porque não aspirar à virtude, como bem supremo, se a mesma não for um conjunto de deveres impostos. O bem o é na ação em si, no impulso desinteressado, e não no propósito de ser, porque a moral não fundamenta a virtude, mas é fundada sobre ela. O sujeito da moralidade não age moralmente, é determinado moralmente. O ideal da moralidade é, portanto, um sujeito que age sempre de acordo com a consciência moral, através da liberdade.
«Age de tal forma que a máxima segundo a qual tu te reges possa ser seguida por todos os outros homens, em qualquer época, sem incompatibilidade.»
O ideal da maldade transgride a liberdade, por mor da transgressão, e consiste num sujeito que age exclusivamente por interesse e segundo princípios materiais. «Quero agir de tal modo que o meu "eu" seja o único fim possível da minha acção e apareça como o único ser livre.»
As máximas extraídas deste propósito, são:
. Nunca sejas sincero e, no entanto, faz-te passar por tal. Pois se fores sincero, então os outros poderão contar contigo, tu serves-lhe e eles não te servem a ti. Mas se não pareceres sincero, então não contam contigo, e tu não conseguirás servir-te deles tão confortavelmente.
. Não reconheças nenhuma propriedade, mas afirma que ela é sagrada e inviolável, e apropria-te de tudo. Se podes possuir tudo como reconhecidamente teu, então tudo está dependente de ti.
. Serve-te da moralidade dos outros como fraqueza para os teus fins.
. Tenta outrem ao pecado, enquanto pareceres reconhecer a moralidade como algo necessário. Assim todos os outros estarão dependentes da tua graça, portanto podes puni-los como transgressores.
. Não ames ninguém.
. Torna infeliz todo aquele que não quiser depender de ti.
. Sê totalmente consequente e nunca te permitas o arrependimento.
. Tudo aquilo que resolveres, executa-o custe o que custar. Assim mostras-te totalmente independente e conseguirás, por causa da uniformidade no teu procedimento, a aparência de justiça, que proporciona um meio expediente para fazeres dos outros teus escravos, antes de eles o notarem.



















